'As pessoas não são o vírus', diz técnica de Enfermagem que descobriu HIV quando foi doar sangue há 25 anos
10/12/2024
No mês dedicado à campanha de prevenção e combate ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), Fabiana de Carvalho conversou com o g1 e falou sobre os anos desde o recebimento do diagnóstico. Fabiana Oliveira de Carvalho, 45 anos, testou positivou para o vírus HIV.
Arquivo pessoal
O ano era 1990. A estudante Fabiana de Carvalho, atualmente com 45 anos, resolveu fazer uma doação de sangue incentivada por uma orientadora do curso técnico de Enfermagem. No entanto, dias após esse ato, a jovem recebeu o diagnóstico positivo para o Vírus da Imunodeficiência Humana, popularmente conhecido como HIV.
''O hemocentro me ligou, pediram que eu fosse à unidade, onde fui informada do resultado. Na época, foi muito impactante. Lembro que disse ao meu pai, que ficou desesperado, achava que eu ia morrer logo", contou Fabiana.
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O g1 conversou com a Fabiana neste 'Dezembro Vermelho', período dedicado à campanha de prevenção e combate ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), e a técnica de enfermagem contou sobre como foram esses mais de 25 anos convivendo com o vírus.
Do diagnóstico à gravidez
O diagnóstico de Fabiana foi em 1999. Na ocasião, ela morava em Belford Roxo, no Rio de Janeiro.
Segundo a técnica de Enfermagem, apesar do susto inicial que os familiares tiveram, o fato dela ser da área da saúde fez com que o resultado positivo para o vírus fosse encarado de forma mais consciente.
"Acho que o próprio curso de Enfermagem me deu uma base de conhecimento. Desde então, eu sempre tive muito cuidado comigo e fui responsável, porque sabia que precisava da adesão da medicação para levar uma vida normal. Eu tenho o vírus, mas nunca fiquei doente por causa dele", destacou.
Campanha alerta para a prevenção contra HIV/Aids e outras doenças
O convívio com o HIV não fez Fabiana deixar de lado alguns sonhos, como a maternidade. A mulher que já era mãe de um filho, teve outros dois bebês, mesmo após o diagnóstico.
As crianças fizeram o acompanhamento profilático corretamente e não foram infectadas.
"A única coisa que o HIV me tirou nesse processo de maternidade foi a amamentação. Eu não amamentei os meus filhos, mas eles foram crianças normais. Hoje, um está com 26; o outro, com 23; e o terceiro, com 21", disse.
Atualmente, a técnica de Enfermagem mora em Anchieta, no litoral Sul do Espírito Santo. Ela está entre as 19 mil pessoas que realizaram o tratamento com medicação antirretroviral entre janeiro e novembro de 2024 no estado, incluindo hospitais públicos e privados, segundo dados da Secretaria do Estado de Saúde (Sesa/ES).
Fabiana é membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP-ES) e ajuda a esclarecer informações sobre a doença. A técnica faz palestras sobre o tema, desmitificando os tabus que ainda existem quando o assunto é HIV.
'As pessoas não são o vírus. Eu não sou um agente infeccioso. Eu sou uma mulher, uma pessoa, um ser humano, que tem que amar, viver, trabalhar e ter todas as perspectivas de vida e sonhos. O HIV não pode limitar ninguém", comentou Fabiana.
Segundo a Sesa/ES, entre janeiro e novembro de 2024, o estado notificou 916 infecções por HIV e Aids, sendo 239 do sexo feminino (26,15%) e 674 do sexo masculino (73,74%), além de três crianças.
Em todo o ano de 2023, foram 1.212 casos; e em 2022, 1.354, sempre com predominância entre o sexo masculino, com mais de 70% dos casos.
O que é o HIV?
Diferentemente do que pensam, conviver com HIV não é o mesmo que ter Aids. Isso porque uma pessoa que testa positivo, como a técnica de Enfermagem Fabiana, pode levar a vida normalmente, desde que realize corretamente o tratamento.
O HIV atinge principalmente os chamados linfócitos T CD4+. O vírus modifica o DNA dessas células e se replica. Depois, destrói os linfócitos e continua a infecção em novas células.
Microscopia eletrônica mostra partículas víricas do HIV brotando de célula infectada
Divulgação
Por isso, caso não haja tratamento, o HIV pode causar a Aids (termo para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, SIDA em inglês), um conjunto de sinais e sintomas relacionados à falência do sistema de defesa, caracterizada por uma série de infecções oportunistas e câncer.
⚠️ ENTENDA: Esse é um conceito que a ciência vem reforçando nos últimos 20 anos, visto que o tratamento antirretroviral previne a transmissão do HIV. Em outras palavras, quando a carga viral é indetectável, o vírus não se transmite durante relações sexuais.
Já pessoas que vivem com HIV/Aids que NÃO estão em tratamento ou possuem carga viral detectável podem transmitir o vírus a outras pessoas.
Transmissão e prevenção
A transmissão pode ocorrer por meio de relações sexuais sem proteção, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, caso não sejam adotadas as medidas preventivas necessárias.
Assim, a maneira mais eficaz de prevenir o HIV é a prevenção combinada, que utiliza várias abordagens simultâneas para atender diferentes necessidades e formas de transmissão.
A PrEP, por exemplo, é uma das principais formas de prevenção do HIV. Comprimidos são tomados em esquemas diferentes (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
Prep e pep
Reprodução/TV Globo
Em casos de situação de risco, como sexo desprotegido ou uso compartilhado de seringas, o Ministério da Saúde orienta a testagem contra o HIV. Se a exposição ocorreu há menos de 72 horas, é fundamental procurar informações sobre a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), um método de prevenção com o uso de medicamentos antirretrovirais após um possível contato.
Mas pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) com carga viral indetectável, ou seja, uma baixa quantidade de cópias do vírus, têm risco ZERO de transmitir o HIV por via sexual e podem viver uma vida NORMAL.
"O tratamento hoje possibilita uma vida normal. O tempo de vida depende da realidade social de cada indivíduo. O HIV não pode paralisar sua vida. Cuide se! Sonhe! Viva à Vida", finalizou a técnica de Enfermagem.
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